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Você já ouviu falar sobre violência doméstica sofrida por mulheres?
Muitas mulheres sofrem violências gravíssimas dentro de suas próprias casas, podendo chegar a óbito.
O feminicídio é um crime tratado pela lei 13.104 de 09 de março de 2015, que determina a morte violenta de mulheres simplesmente por serem mulheres.
Esses crimes, normalmente, são praticados por companheiros, ex-companheiros ou conhecidos da vítima.
Os casos de feminicídios estão relacionados à violência contra a mulher e a violência doméstica.
Trata-se de um crime de homicídio qualificado com pena mais grave e com requisitos mais rígidos para a concessão de alguns benefícios, como, por exemplo, a progressão de regime ou livramento condicional.
As mulheres negras são as principais vítimas de feminicídio, assim como as mulheres trans, as lésbicas e as trabalhadoras sexuais.
O Fundo Brasil relata que a cada 60 segundos, 9 mulheres são agredidas no Brasil e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública afirma que durante a pandemia do COVID-19, houve um aumento de 22% nos registros de casos de feminicídio no país.
Além disso, é importante discutir a forma como um relacionamento é construído em nosso país.
Como se inicia o ciclo de abuso?
Vemos uma crescente de casais e famílias sendo constituídas de forma que a mulher decide sair da casa onde cresceu para abrigar-se em seu próprio lar.
Porém, sem as condições financeiras necessárias para sua independência, ela acaba por refugiar-se com um parceiro.
Este parceiro pode ou não atender as necessidades desta mulher, ao mesmo tempo em que pode ou não ser um homem de visão machista e violenta.
A relação entre os mesmos deve ser uma baseada no respeito e no amor, porém a maioria delas são baseadas no ódio e nas condições sexistas impostas pela sociedade, onde a mulher deve submeter-se ao homem.
Quando estas condições não são atendidas, o homem entende que a mulher, a qual considera sua propriedade, deva ser punida de alguma forma.
A relação de amor e ódio, assim como a autoestima, a depressão, a falta de disposição para o enfrentamento da situação, devido à falta de autoconhecimento, e a rejeição social fazem com que muitas mulheres não tomem atitudes para desvencilhar-se da situação de abuso.
Porque a visão que as mulheres tem sobre si carece de consideração, pois as relações das vítimas de agressões com os seus pares atuais e ex-parceiros ou familiares estão confusas.
Isso porque a maioria dos crimes de feminicídio são cometidos por ódio e não pelo amor, e as vítimas dificilmente conseguem distinguir a linha tênue entre um e outro.
Muitas mulheres possuem dificuldade em reconhecer a violência sofrida em seus relacionamentos e frequentemente se perguntam se a agressão vivida e provocada pelo seu parceiro, foi realmente intencional ou se ela é a culpada ou responsável pelos maus tratos recebidos.
Como resultado, sofrem inúmeras agressões e passam por várias dificuldades até provar que estão sofrendo violência corriqueiramente, porque tristemente a própria vítima tem dúvidas se as agressões existem, e as mesmas acabam se mantendo dia após dia em um estado de normalidade.
Em conclusão, podemos ressaltar que a violência psicológica e a agressão física são meios de anular o outro, através da imposição do poder e da força.
Como podemos evitar o feminicídio?
A psicóloga tem um papel importantíssimo na vida de cada vítima e também na vida do agressor, porque nós, psicólogos, temos a condição de fazer a diferença na vida das pessoas, principalmente na vida de mulheres que sofrem, mas não conseguem distinguir e nomear certas situações.
O tratamento psicológico concede a condição de questionar a vítima, quando esta estiver em tratamento.
Durante o atendimento psicológico, o psicoterapeuta tem o poder de, com apenas sua escuta qualificada, auxiliar a vítima em situação de violência.
A psicóloga, com apenas uma pergunta no enquadre psicológico, pode fazer com que a mulher chegue a uma conclusão por si só sobre os acontecimentos da sua vida, porque o pensamento crítico e a autoreflexão são os primeiros passos para que sua conduta seja mudada e normatização da violência doméstica se dissipe.
Uma boa pergunta sugerida pela psicoterapeuta Marie-France Hirigoyen é: “Se você fizesse a mesma coisa, como é que seu “parceiro” reagiria?”.
Esta pergunta pode proporcionar às pacientes uma reflexão sobre o que estão vivendo, e através do processo terapêutico se sentiriam amparadas, porque passariam a se autoconhecer e despertar do pesadelo sofrido.
Pois muitas vezes a violência não é visível para os outros e a vítima acaba suportando muita coisa, por não ter apoio e nem amparo dos seus familiares e amigos.
Frequentemente a violência cometida contra a mulher ocorre quando o homem se sente contrariado, ou então, quando ele percebe que não está conseguindo manter o controle da relação ou a dependência dela em relação a ele.
Em outras palavras: ele não está conseguindo manter o controle da mulher, por isso, se utiliza da agressão física.
Se a mulher denunciar o seu agressor, o ciclo da violência poderá ser interrompido. Mas, se ela não denunciar, a violência poderá aumentar e chegar a óbito, constituindo em um feminicídio.
Para que as violências deixem de fazer parte do cotidiano, a sociedade precisa de educação, conhecimento e valorização sobre quem são e quais os seus direitos.
Cristı̊na Almeida
CRP: 06/49407